Quem
foi o responsável pela morte de Jesus? Nós cristãos somos acusados de
anti-semitismo porque alega-se tentamos fixar a culpa nos judeus,
especialmente seus líderes. A responsabilidade pela crucificação de
Jesus, no entanto, é muito mais abrangente; não se limita a apenas um
grupo de pessoas.
Os evangelistas deixam claro que Judas, os sacerdotes, Pilatos, a
multidão e os soldados, todos desempenharam um papel significativo no
drama. Além disso, sugere-se em cada caso mais de um motivo. Judas foi
movido pela ganância; os sacerdotes, pela inveja; Pilatos, pelo medo; a
multidão, pela histeria; e os soldados, pela obrigação insensível.
Reconhecemos a mesma mistura de pecados em nós.
O mesmo verbo grego é usado em cada etapa. A palavra grega paradidômi, que
pode significar entregar, liberar, desistir ou mesmo trair. Judas
entregou Jesus aos sacerdotes. Estes o entregaram a Pilatos, que o
entregou à vontade da multidão, que, por sua vez, o entregou para que
fosse crucificado.
Mas esse é apenas o lado humano da história. Jesus insistiu que sua
morte era um ato voluntário de sua parte, de modo que Ele se entregou a
ela: “Ninguém tira a minha vida, mas eu a dou por minha espontânea
vontade” (Jo 10.18). E em algumas passagens o verbo paradidômi
reaparece. Por exemplo, “o Filho de Deus… me amou e se entregou por mim”
(Gl 2.20). Entretanto, há ainda mais uma perspectiva a ser considerada,
a saber, a ação de Deus, o Pai ao entregar seu Filho à morte. Por
exemplo, Deus é descrito como “aquele que não poupou seu próprio Filho,
mas o entregou por todos nós” (Rm 8.32).
Finalmente, há uma passagem em que os aspectos divinos e humanos da
morte de Jesus são considerados juntos. Pedro pregou: “Este homem lhes
foi entregue por propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e
vocês, com a ajuda de homens perversos, o mataram, pregando-o na cruz”
(At 2.23).
Neste texto a morte de Jesus é atribuída de igual modo ao propósito
de Deus e à perversidade dos homens. Não se faz tentativa alguma no
sentido de equacionar o paradoxo. Ambas as declarações são verdadeiras.
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